Hoje, condicionada ao mundo moderno, precisei ouvir incontáveis minutos de um curso obrigatório no meu trabalho sobre gerenciamento de tempo. Nós precisamos estabelecer metas, objetivos a longo prazo, sermos resolutivos, se focar em uma tarefa e completá-la. Nós precisamos aprender a sermos mais produtivos, porque isso significa que assim, seremos melhores. Logo após toda essa falação é necessário descer as escadas e voltar aos afazeres do mundo do escritório. Trancados como ratos de laboratórios, sem janelas e gelados por um ar-condicionado, nos alienando de tudo que possa ser sentido do dia: o sol, a temperatura, a umidade, o som gostoso de chuva; não nos resta nada a fazer senão trabalhar.
Defina seus objetivos, eles disseram. Honestamente, hoje, meu objetivo é chegar em casa. Para além disso, poderia me aventurar em um mundo fantasioso e desejar ver a luz do dia, sentir a grama sob meus pés, e ir dormir tranquila por ter vivido o dia e não apenas passado por ele. Veja as prioridades de seus colegas e não tarde em pedir ajuda, eles disseram. A prioridade de meus colegas é ir para casa, assim como a minha. Nós somos apenas unidos pelo dinheiro que paga a comida de nossas mesas. Relacionamentos de coleguismos se estruturam a partir de uma necessidade de suportar todas as pilhas de papéis largadas em nossas mesas pelos cientistas que não tardam em investigar nossos limites físicos e mentais.
A pachorra daqueles que estruturaram o curso de gerenciamento de tempo foi tamanha que ousaram culpar Ódin, deus do tempo na mitologia Grega. Você está sempre estressado com o trabalho? Mau gerenciamento de tempo. Você não dá conta daquilo que lhe foi atribuído? Mau gerenciamento de tempo. Faça o módulo 2 do curso. Que se danem! Me poupe!
Não culpo Ódin, normalmente, eu me culpo. Me culpo por continuar aqui, por me obrigar a escutar com uma cara serena e pacífica essa porcaria de curso. Me culpo por jurar obediência em troca do saco de arroz no fim de cada mês. Me culpo por vender meus ideais e dignidade de poder falar mal dessa imundície. Felizmente, toda essa culpa que carrego nas costas possibilita comprar o papel e caneta que aqui me ponho a escrever. Pelo menos, nesse refúgio, posso culpar os outros. Culpo você, seu vagabundo! Culpo o sistema, seu quebrado! Culpo o governo, seu corrupto! Culpo até quem dorme ao meu lado e me escuta reclamar de meu curso, seu barulhento roncador.
Finalmente livre, tenho meus punhos cansados, sob uma pilha de papéis que não temo. Finalmente, depois de um longo dia, sob as estrelas, posso escrever.
Temporona
Talvez eu tenha uma cauda de tritão, embora também não quisesse.
ResponderExcluirNão culpo Odin, Posídon e nem Anfitrite! Eu me culpo, me culpo incessantemente neste mar que me afogo, respiro e sobrevivo.
"Será que as coisas que eu faço. Penso que não têm problema. Na verdade são pecado. E é por isso que eu me sinto tão culpado?"