Tantos textos inacabados, papéis em muitos cantos, sempre resmungo deles, nenhuma novidade, mas, às vezes, aquilo que não se acaba não é nada, não tem nada para se acabar e parte da vida se dá assim, pela metade. Por que? Respondendo minhas próprias perguntas, maluquice e comodidade. Porque assim se sobra espaço de vida para acabar o necessário, o que te move, o que te encanta e te dá proposito, espaço para ser o que se é. Gostaria muito que fosse verdade. Assim, os textos que não escrevo e os papéis que não arrumo - sempre amontoados na bancada do café, e o café sempre no lugar que não se é lugar de ser café, na pia - seriam uma lembrança palpável que meus encantos tem me encantado o suficiente, que as miudezas não tem tempo de serem arrumadas.
Como o entretanto sempre aparece, isso, entretanto, não é verdade. Estou desencantada e vivendo na bagunça. Não tenho feito especialmente nada de errado e dias passam pacatos, esperando o próximo. No meio tarde, quando já olhei para os papéis revirados, quando já tomei café e deixei na pia, vi que nada de muito importante seguiria, me vem um gosto amargo na boca, quase um mau hálito da mente. Me agita o coração. Se, assim como ontem, mais poucas horas passarem e o sol me abandonar e me deixar com o escuro - tenho medo de fazer perguntas no escuro, vou dormir sempre cedo, assustada - só seria acrescentado mais um dia no calendário. Então, o sol me abandonaria novamente, e antes que me desse conta, estaria vivendo tudo pela metade, esperando trocar o mês, trocar o ano e trocar a vida pela morte. Por conta disso, passo o início da noite refutando tais gostos amargos com chá de camomila. Funciona muito bem, conto carneirinhos sem tardar.
Quando digo que estou desencantada, não estou, em nenhuma instância, batendo cabeça na parede, desesperada e odiando a minha companhia. Tudo, assim como o chá, segue calmo. Quando digo que sinto um gosto amargo de fim de tarde, ainda sei para onde estou indo. Não estou, muito menos, esperando fechar os olhos para nunca mais abrir. O que me passa então? Maluquice e comodidade. Imagino, tenho pensado bastante, que tenho entendido parte da vida, do andar dos dias e da paz que precisa ser encontrada nos dias tranquilos como estes últimos.
Não preciso agitar minhas tardes com pensamentos melancólicos quando as tardes são de descanso e tranquilidade. E muito menos quero, ainda que diga isso com dor, que os dias agitados, corridos, que não se tem tempo para pensar e estar para com você mesma, sejam o que acalentem minha alma e possa finalmente respirar aliviada. Não se pode correr respirando tranquilamente e tão pouco se pode descansar puxando todo ar do mundo para os pulmões, incontáveis vezes, na velocidade da luz. Eu, que não sou mais que humana, deveria saber sentir melhor. Estou ainda aprendendo a achar graça em viver cada dia, não me veio de fábrica como se pressupõe, reclamarei com a minha mãe. Vou passar amanhã desencantada, com uma xícara na pia e
Temporona
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