Tenho muitos pesadelos.

Quero matar minha alma.

Quero matar minha alma vagabunda que olha tudo e todos com desejos de torná-los meus e fazer cair as minhas graças, que imagina barbaridades descomunais.  Alma essa sabe que gosta de ver dor alheia e expressa dentro da pureza do corpo do outro. Anseia pelo sofrimento do outro. Sádica e ácida, respondendo internamente todos com o saco cheio dessa raça humana. Sem espaço para o amor.

Quero matar minha alma de artista que critica toda a matemática que me apoio, onde tudo se torna um mundo sem cor e meus olhos são constantemente forçados a ver só aquilo que é belo, morto e distante; para que possa ser expressado na tela da melhor maneira, com as cores frias que mancham minhas mãos a noite. Critico e culpo minha mãos falhas que de nada servem a não ser  fazer uma criação imunda, feia e desbalanceada. As pinceladas machucam em uma autocrítica constante.

Em um suposto equilíbrio me escondo em mim mesma, às vezes me desprendo do meu corpo e volto a pensar a noite de maneira tão suja e tão áspera como faço na maior parte do dia, em constante silêncio externo. Os ratos subindo do esgoto e da escória que não gostamos de ver, batem na porta do meu quarto e sem esperar um "-pode entrar" levam meu corpo pesado e dormido para baixo. 

Talvez eles me entendam melhor, que assim como eu, vivem escondidos sob uma máscara que não sei se uso, me usa, ou apenas sou. Já faz muito tempo…

A noite, fora do meu controle, depois de passar um tempo considerável sendo toda a podridão de dentro de mim, sonho. Depois de perseguir desejos escuros acordada, eles me perseguem. Em uma corrida interminável, sou assombrada por tudo que cause um arrepio na espinha e um pânico de virar a cabeça para trás e descobrir que o mal realmente estava te esperando. Ele segura seu braço e você acorda. 

De repente, esse é o preço de ser uma alma amarga. Tão boa por fora e tão corroída quando volta a si mesma. Agora, quem é o agente corrosivo? Às vezes sou só uma flor apodrecida pelos dedos da dor alheia colocada em mim por seringas. Que mata quem cheira. Que come quem ali descansa as asas.

De repente, meus melhores amigos, comedores de queijo, podres como eu, gostam de ver as lágrimas e a expressão de dor ao passo que a noite avança e durmo, então sussurram em meu ouvido histórias fantasiosas para me causar um medo, e riem das caras e bocas que faço enquanto morrem de fome de baixo das ruas vazias.

Talvez sejamos todos ratos.

Me tornei ruim depois que comecei a sonhar. Ou de tão ruim, comecei a sonhar tão feio.


Temporona

Comentários

  1. Meu amigo gay poeta achou o texto sublime. Ele pediu para dizer. KKK. Bom, devo concordar, de fato, é sublime. Grotesco e sublime. Amei.

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    1. Isso significa que o texto trocou de estado físico e agora ele paira sobre o ar? Se for isso, tenho inveja, quem dera eu pudesse viajar mundo a dentro como partícula...

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