Não tenho um título e não te tenho.

Eu posso tentar organizar minha vida inteira. Jogar fora os objetos que já não sei o que falam sobre mim. Posso organizar os horários, de maneira até realista, com meus afazeres, que nada irei seguir quando um desespero sem tamanho me acometer. Posso tentar deitar nos horários corretos, mas ei de encarar o teto em total agonia, por tantas horas quanto consigo contar. No meio da madrugada, depois de rolar na cama, e de ser tão miserável a ponto de até tentar dormir no chão, e implorar a mim mesma, com lágrimas nos olhos, para desligar um pouco e ter um respiro de paz….

Depois de toda essa mentira, vou me sentar na meia luz, em frente ao espelho e ensaiar mais uma vez as tantas palavras que quero te dizer. Vou usar um vocabulário robusto e bem pensado para que você nem entenda, a fim de mascarar minha súplica: me queira.

Sim, sou essa desordem insone. Não é como se você não soubesse.


Quando era criança e me perguntavam o superpoder que gostaria de ter, frequentemente citava uma cauda de sereia, de escamas verdes e longas, que brilharia na luz da lua. Hoje, que penso mais do que sonho, minha resposta seria diferente. Queria poder mudar a imagem e pressuposições que as pessoas têm de mim, como desejasse, meu superpoder.

Minha primeira ação, agora, detentora do poder divino da imaginação infantil, seria fazer a impressão que você tem sobre mim mudar. De algum jeito, de maneira qualquer, você olharia para mim e veria o que tanto procura.


Não tenho poderes algum, não tenho sono e não te tenho.


O que me resta? Uma pilha de roupas mal dobradas, amassadas, após tanto serem jogadas de um lado para o outro do quarto. Me restam olheiras e sonhos irreais de ter um suspiro seu, torto, digo, descompassado, na minha nuca.

Seus olhos, mais cansados que os meus, que carregam mais noites mal dormidas, às vezes, me encaram como se você também não quisesse uma cauda de tritão. Como, se, por uma fagulha de momento, você quisesse mudar as minhas pressuposições, e que elas fossem te querer.

Será que é assim mesmo? Olho para mim e não me vejo digna de pena. Mesmo sendo arrastada volta e meia, não tenho nada para sentir vergonha, e para ser miserável. Logo, não quero a pena do outro. Se não quero nem a sua pena, não quero fagulhas de momentos de talvezes seus.

Se sinto tanto por você, sinto muito por mim,  não vou esperar fagulhas virarem minutos, que virariam horas, que te fariam meu.


Não tenho suspiros na nuca, não tenho pena e não te tenho.


                                                                      Temporona


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