Vou melhorar, eu juro, vou clarear o céu.

  Enquanto eu estava mergulhada em tristeza e cansaço, quando não aguentava o espelho ou mesmo o reflexo da janela, que de maneira grosseira, mostrava minhas olheiras profundas, escurecidas pela falta de sono, eu vi um grupo de seres humanos passando por baixo de mim. Não me entenda mal, eu estava no parapeito da janela do segundo andar, de lugar nenhum, enquanto elas andavam.

    Constituído de moças sorridentes, elas tinham mochilas coloridas, estampadas e verdes como as árvores que lhe faziam sombra. Essas mochilas tinham penduricalhos e faziam barulhos que acompanhavam seus passos lentos e despreocupados. Todas vestiam um jeans claro que combinava com o dia, da mesma tonalidade do céu.

    Nada  que as minhas costas carregam reflete a beleza das árvores, nem minhas roupas se perdem no azul acima de mim. Tenho apenas elas. Minhas olheiras combinam com um tempo chuvoso de fazer o sol se esconder e o azul cor de jeans  virar um carregado de nuvens de chuva gelada.

    Hoje, assim como o tempo fechado que nunca veio, eu também faço chover entre meus olhos. Coisa mais brega fingir ser o que não se é. Não sou nuvem, não carrego mochilas vibrantes enquanto olho pra trás sorrindo depois de fazer um comentário despretensioso para a Angélica. Sou só gente, única, que segura o lápis que escreve e segura o choro que escorre. Nem isso consigo.

    Entro em uma sala. Entrei caminhando entre duas pernas, não entrei como mochila, nas costas, não entrei como a umidade do ar, passando entre frestas. Aqui, onde tanta gente já passou, tanto tempo foi  embora desde de que se começaram a passar. A tinta da parede que de tanto descansar, descascando, já parou de ser tinta e virou um pedaço de cor que falta. Essa sala tem cadeiras com pernas feitas de metal, de cor preta, e nunca passam formigas pelo chão feito de laje. De viva aqui dentro, só eu.

    O chão, de laje, sente gotas que pingam, não sendo de chuva alguma por causa do teto e o gosto de salgado não vem do mar. Sem ligar as luzes, espero que no meio de tanta água, ela lave e leve embora o escuro dos olhos. Se isso não é possível, pelo menos as cores saindo dos meus olhos podiam esconder as partes do rosto que roupa nenhuma cobre. Até o mesmo preto das pernas metálicas seria melhor do que essa transparência que nada esconde e nada leva embora. Não vou pensar no vermelho. Não posso. Ainda estou no segundo andar.



Temporona

Comentários

  1. Não falo dos teus textos por aqui pois falo por ali, pra você

    Aqui, sinto que falo pros outros e, pra eles, só tenho vontade de dizer que te amo

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