Nos últimos dias estou tentando cavar uma escada no buraco que me encontro, para chegar na luz do dia. Minhas unhas tem um barro vermelho por debaixo delas que nunca mais vai sair. Depois de tantos dias chuvosos ficou mais fácil de cavar, a terra, agora gosmenta, vira barro, que vira degrau, que coloco acima de mim. Estou me sentindo mais mal com cada degrau que coloco para fugir de tanta tristeza que sou. Fiz tudo que deveria fazer, muito diferente das minhas últimas tristezas, onde nelas, parava a minha vida inteira, renegava minhas responsabilidades e ignorava meus amados. Arrumei minhas bagunças e planejei um futuro excitante, e dormi as horas certas daquelas quantas que se dormem nos dias normais, e vi gente viva, e vi luz do dia e lavei meu cabelo.
Meu medo tolo, que sei ser irreal, é viver esse futuro tão excitante com esse choro não chorado na garganta e ver a vida com essa palidez que agora vejo e continuar ou sentindo nada, ou ainda chamando esse sentir nada de tristeza pra todo meu sempre de ser gente viva. Ausência das emoções verdadeiras. Só desolação, e insensibilidade, e cheiro de barro e escuro.
Suspeito cada vez mais gostar das coisas que gosto: o sorriso das crianças quando chegam em casa sábado cedo; os filmes de comédia assistidos ao lado do bom amigo; o bolo de maçã que minha vizinha faz e sei só de sentir o cheiro se o seu humor está revolucionário ou melancólico. Sei ainda da minha capacidade de me fazer bem, envolta da própria companhia: quando jogo xadrez sozinha e perco-ganho para mim mesma; as leituras que volta e meia me fazem perder toda madrugada e acompanhar um sol tímido se tornar um grande motor; o cheiro da chuva quando desço por o pé na grama e sentir as gotas geladas demais.
Sei que gosto disso, ou melhor dizendo, já senti tanto prazer ali, de nem caber em mim, e querer ir além, e ser alguém melhor para merecer tanto da vida e tantos amados. Se pensasse direito, ousaria dizer que nesse prazer todo acho o sentido da vida. Mas agora não sinto nada. Sinto no máximo pena dessa mulher tão apática, que não chora do choro alheio, e não sente a alegria que arrepia os braços, e não se envolve em nada além de sua própria miséria mental.
Que vidinha linear: ficar triste, se agarrar nas ilusões de tentar sentir algo além de si, se afundar mais fundo e precisar de mais degraus. As vezes me sinto como uma porca na lama espessa, onde minhas mãos não tem mais polegares e nada fazem, não constroem degrau nenhum. Fuço meu buraco e espero o churrasco com a maçã na boca. Quero flores azuis e brancas.
Me desculpe, não estou bem nas faculdades mentais. Oinc.
Temporona
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